domingo, 15 de fevereiro de 2009

1. Introdução à disciplina “Metodologia Científica”

1. Introdução à disciplina “Metodologia Científica”

Nesta primeira aula (ou primeiro Módulo) enfocaremos alguns conceitos gerais sobre a Metodologia Científica, como disciplina obrigatória de todos os cursos de graduação da Educação Superior. Também trataremos de conceitos sobre Conhecimento (as formas e os tipos) e, também, sobre Ciência, esta que, na essência, é conhecimento.


1. 1 Apresentação


Nos cursos de graduação da Universidade do Contestado há duas disciplinas, com denominações bem parecidas – mas não iguais – a “Metodologia Científica” e a “Metodologia da Pesquisa”. Seus ementários (conteúdos) são diferentes, entretanto, uma disciplina complementa a outra.

Constitui conteúdo específico da “Metodologia Científica” o conjunto de normas, métodos e técnicas recomendadas na construção do trabalho científico; enquanto para a “Metodologia da Pesquisa” ficam as matérias, orientações, noções básicas e indispensáveis de iniciação à pesquisa, ou seja, os seus fundamentos filosóficos (BEBBER & MARTINELLO, 2002). [Negrito meu].

Quando nos referimos a Educação Superior ou a um curso superior de graduação, referimo-nos especificamente a uma “Academia de Ciências”, já que qualquer tipo de Faculdade, de Centro Universitário ou de Universidade nada mais é do que o local apropriado para a busca incessante do saber científico.

Esta disciplina, a “Metodologia Científica”, igual ou idêntica para todos os cursos de nível superior, é matéria obrigatória. Todos os alunos têm que passar por ela, pois ao adentrar numa academia de ciências – como é o caso da UnC – não há como dissociar o ensino da pesquisa, ainda mais quando se quer ver o aluno aprender fazendo.

Na UnC esta disciplina tem uma carga horária de 30 horas-aula (dois créditos) razão porque muitos conteúdos apresentam-se de forma reduzida, abrigando um mínimo de informações, ou seja, apenas o indispensável para o cumprimento dos seus objetivos.

Método é palavra derivada do grego e quer dizer caminho. Método, então, é a ordenação de um conjunto de etapas a serem cumpridas no estudo de uma ciência, na busca de uma verdade ou para se chegar a um determinado conhecimento pela investigação. Resumindo: "método" quer dizer caminho, "logia" quer dizer estudo, e ciência quer dizer “saber”. O método confere segurança e é fator de economia na pesquisa, no estudo, na aprendizagem (RUIZ, 1976, p. 131). “Método é um conjunto de normas-padrão que devem ser satisfeitas, caso se deseje que a pesquisa seja tida por adequadamente conduzida e capaz de levar a conclusões merecedoras de adesão racional” (NAGEL, 1957, p. 19).

Neste sentido, a disciplina Metodologia Científica tem uma importância fundamental na formação do aluno. Os estudantes que procuram a academia na busca do saber precisam entender que Metodologia Científica nada mais é do que a disciplina que "estuda os caminhos do saber". É o estudo dos caminhos a serem seguidos para se fazer ciência.

À primeira vista, observa-se entre os alunos ingressantes em praticamente todos os cursos de graduação o preconceito de que a disciplina de Metodologia Científica é uma das mais ruins, complicadas, difíceis e rejeitadas pela maioria dos estudantes (BELO, 2003).

Ora, a disciplina Metodologia Científica é prática e deve estimular os estudantes para que busquem motivações para encontrar respostas às suas dúvidas. Se nos referimos a um Curso Superior, estamos naturalmente nos referindo a uma Academia de Ciência e, como tal, as respostas aos problemas de aquisição de conhecimento devem ser buscadas através do rigor científico e apresentadas através das normas acadêmicas vigentes.

A Metodologia Científica não contempla um simples conteúdo a ser decorado pelos alunos, para ser verificado num dia de prova. Trata-se de fornecer aos estudantes um instrumental indispensável para que sejam capazes de atingir os objetivos da Academia, que são o estudo e a pesquisa em qualquer área do conhecimento. É o que se entende por aprender fazendo. Como diz a Dra. Maria das Graças da Silva, “saber-fazer é enfrentar desafios”, ao expor que a metodologia científica tem como meta educativa “a habilitação do estudante para uma relação rigorosa com o material didático utilizado nas diferentes disciplinas, com capacidade de avaliação e posicionamento crítico em relação aos temas abordados nesse material” (SILVA, 2007).



1. 2 Objetivos



A disciplina Metodologia Científica tem o propósito de fornecer ao aluno um conjunto de diretrizes básicas, recursos metodológicos, abordagens teórico-metodológicas e técnicas de pesquisa, que irão orientar a sua trajetória de estudos e de pesquisa durante e depois da graduação. A disciplina Metodologia Científica, além de teórica, é eminentemente prática e tem a função de estimular os alunos para que busquem motivações para encontrar respostas às suas dúvidas.

A academia tem a permanente perspectiva de que os alunos têm, nela, a oportunidade de apreender, produzir, ampliar e transmitir novos conhecimentos. Isso, não pode ser feito a partir de qualquer coisa e de qualquer jeito, de qualquer forma ou de qualquer maneira.

No constante processo do saber-fazer, do aprender-fazendo, participando ativamente como sujeito co-responsável do seu próprio processo de educação, ao final da disciplina o aluno deverá ter não só reconhecimento acadêmico, como também habilidade para produzir conhecimentos, dando conta assim das exigências inerentes ao seu processo de elaboração e de comunicação formal de resultados.

O objetivo central é proporcionar ao aluno instrumentalização teórico-prática para o desenvolvimento de trabalhos científicos, em especial a produção de um projeto de pesquisa para nortear o desenvolvimento de um artigo científico.
A importância desta disciplina está na necessidade de avançarmos quanto a nossa capacidade de produzir conhecimento para que não sejamos meros "discípulos copiadores", pois a universidade e o universitário só cumprem sua função social ao produzir conhecimento novo, ao questionar e reelaborar o conhecimento científico. E esta disciplina quer:
1. Refletir sobre o papel do conhecimento na sociedade atualmente.
2. Analisar o alcance dos diferentes níveis de conhecimento.
3. Analisar a importância da prática da pesquisa na formação da cidadania.
4. Diferenciar métodos e técnicas de pesquisa.
5. Caracterizar os tipos de pesquisa.
6. Aplicar instrumental técnico para a organização das leituras e elaboração de trabalhos científicos.
7. Compreender os princípios básicos para a elaboração de um projeto de pesquisa.
8. Conhecer os diversos tipos de trabalhos científicos.
9. Desenvolver um artigo científico a partir de tema de interesse.

A Metodologia Científica é uma das matérias mais estratégias na formação acadêmica, sobretudo na direção da motivação à pesquisa [...]. A despreocupação metodológica coincide com baixo nível acadêmico [...]. Nada favorece mais o discípulo ‘copiador’ que a ignorância metodológica (DEMO, 1990, p. 24).

Estas palavras de Pedro Demo nos levam a refletir sobre o papel da disciplina Metodologia Científica no sentido de que o aluno da educação superior, tem um compromisso com a produção do conhecimento e, para isso, não pode prescindir de conhecimentos metodológicos que sejam norteadores desta produção.

Assim, a Metodologia Científica é um instrumento fundamental para desenvolver a capacidade de construir conhecimento, e por isso adquire relevância fundamental na formação dos acadêmicos, pois “aprender a aprender e saber pensar, para intervir de modo inovador, são habilidades indispensáveis do cidadão e do trabalhador modernos, para além dos meros treinamentos, aulas, ensinos, instruções, etc.” (DEMO, 1996, p. 9).

No Plano de Ensino desta disciplina, destacamos seus objetivos:

Objetivos:

• Proporcionar a instrumentalização teórico-prática para o desenvolvimento de trabalhos científicos, em especial a produção de um projeto de pesquisa;
• Iniciar o estudante de graduação no processo de investigação científica, preparando-o para elaborar textos acadêmicos, além de melhor instrumentá-lo para a realização de pesquisas;
• Clarificar a relação existente entre o campo do conhecimento e os métodos existentes, para auxiliar o aluno na justificativa da escolha do seu objeto de pesquisa, a fim de demonstrar, claramente, os motivos, as limitações e as vantagens do tipo de pesquisa e objeto escolhidos;
• Auxiliar o aluno do curso no desenvolvimento de um olhar crítico sobre os principais tipos de pesquisa, segundo seus fundamentos epistemológicos, buscando adaptá-los à sua realidade e ao seu projeto.

Objetivos específicos:

• Familiarizar os estudantes de nível universitário com o teor do chamado mundo científico e instrumentalizá-los para que possam desenvolver suas atividades conforme a metodologia aplicada às ciências;
• Gerar atitudes comportamentais conscientes e internalizadas quanto às operações inclusas no processo de pesquisa científica, a partir da graduação;
• Aprender a arte da leitura, da análise e interpretação de textos. Vivemos o fenômeno do aluno-copista, que reproduz em suas pesquisas e trabalhos acadêmicos aquilo que outros disseram, sem nenhum juízo de valor, de crítica ou apreciação.
• Fornecer aos estudantes um instrumental indispensável para que sejam capazes de atingir os objetivos da Academia, que são o estudo e a pesquisa em qualquer área do conhecimento;
• Capacitar os estudantes para a prática do aprender fazendo, como sugerem os conceitos mais modernos da Pedagogia;
• Orientar os estudantes para seguir rigorosamente as regras definidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, para elaboração de trabalhos científicos;
• Facilitar as questões que envolvem a elaboração de um projeto e o relatório da pesquisa, resultando a disciplina como uma facilitadora da aprendizagem;



1. 3 Conhecimento



Ciência é o conhecimento sistemático dos fenômenos da natureza e das leis que os regem, obtido através da investigação, pelo raciocínio e pela experimentação intensiva. Ora, se ciência é, basicamente, a busca do conhecimento, todos os alunos ingressantes na Educação Superior têm a obrigação de saber não apenas o que é “o conhecimento”, mas também, quais são os “tipos e formas de conhecimentos” existentes.

É importante que o estudante, como ser humano, compreenda como o conhecimento é construído. Essa compreensão lhe dá a possibilidade de avançar cada vez mais no seu desenvolvimento intelectual e na construção do seu pensar. No ato de conhecer, o ser humano não sai do zero, não parte do nada, mas sim, dos conhecimentos já adquiridos e anteriormente acumulados em uma determinada realidade.

As formas de conhecer dependem da maneira como este ser humano (o estudante, por exemplo) entra em contato com o mundo que o cerca.


Formas de conhecimento

As formas de conhecimento, que não podem ser tomadas como estanques, isoladas, na medida em que elas se interpenetram e se complementam, são identificadas no campo da teoria do conhecimento Elas se distinguem pela origem e pelo método de investigação, pela posição que assumimos diante da realidade, pelo nível de exatidão e consistência, pela atitude mental para alcançá-lo. Assim, você precisa não só discutir o conhecimento científico, como também saber contrapô-lo a outros tipos de conhecimento, ou às suas diversas formas de conhecer.

Existem diversas formas de nós apreendermos o real. Apreendemos o real pela razão (mente), pelo discurso e pela intuição e, também, pela compreensão.

A intuição é uma forma de conhecimento imediato, uma apreensão feita sem intermediários. O contato sensorial do ser humano com o objeto resulta no conhecimento. Ela se constitui no ponto de partida do conhecimento, portanto, não pode ser ignorada no ato de conhecer.

Por sua vez a razão tem a possibilidade de superar as informações concretas e imediatas, organizando-as em conceitos ou idéias gerais. Diferente da intuição, a razão tem a capacidade de julgar.

Outra forma de conhecimento é o discursivo, conhecimento mediato que se constrói por meio do raciocínio, portanto, de forma diferenciada da intuição. Esse conhecimento é construído a partir de conceitos decorrentes da operação que o pensamento realiza de forma sucessiva e seqüencial, encadeando idéias, juízos e raciocínios, orientando uma determinada conclusão.

O conhecimento compreensivo é outra forma de conhecer. Compreender significa passar de uma experiência para uma totalidade de atos que formam a exteriorização do conhecimento do sujeito, sob as formas de gestos, linguagens e símbolos.


Tipos de Conhecimentos

Conhecer é incorporar um conceito novo, ou original, sobre um fato ou fenômeno qualquer. O conhecimento não nasce do vazio e sim das experiências que acumulamos em nossa vida cotidiana, através de experiências, dos relacionamentos interpessoais, das leituras de livros e artigos diversos. Nós, os seres humanos, somos os únicos capazes de criar e transformar o conhecimento; somos os únicos capazes de aplicar o que aprendemos, por diversos meios, numa situação de mudança do conhecimento; somos os únicos capazes de criar um sistema de símbolos, como a linguagem, e com ele registrar nossas próprias experiências e passar para outros seres humanos. Essa característica é o que nos permite dizer que somos diferentes dos gatos, dos cães, dos macacos e de outros animais.

a) Senso-Comum ou conhecimento empírico

É o conhecimento obtido ao acaso, após inúmeras tentativas, ou seja, o conhecimento adquirido através de ações não planejadas. Exemplo: A chave está emperrando na fechadura e, de tanto experimentarmos abrir a porta, acabamos por descobrir (conhecer) um jeitinho de girar a chave sem emperrar.

Por ser um tipo de conhecimento que é adquirido através das experiências vividas e acumuladas por nós, no nosso dia-a-dia, independente de métodos ou pesquisa ele é transmitido de geração para geração por meio da educação informal, por tradição, herdado dos antepassados.

Cada realidade possui o seu senso comum, de acordo com o seu tempo. Por ser empírico, as idéias que temos em relação ao mundo, são construídas sem questionamentos. É por meio dessas idéias que nos interpretamos a realidade, são obtidas por meio de observações, vivências e de um corpo de valores que nos ajuda a avaliar, julgar e agir.

Trata-se de um tipo de conhecimento que não é refletido e se encontra misturado a crenças e preconceitos. Por ser fragmentário (porque difuso, assistemático), não ser crítico, ele, em geral, não explica a origem ou razão dos fatos. É mais vivenciado do que propriamente conhecido. Essa forma de pensar da maioria dos seres humanos, principalmente, do homem comum, assume enorme importância, pois trata-se do primeiro estágio de conhecimento, ou seja, do primeiro nível de contato entre o intelecto e o mundo sensível ou o mundo percebido pelos sentidos (LAKATOS; MARCONI, 1986, p.19).

b) Conhecimento Mítico

Trata-se de um tipo de conhecimento característico do ser humano em seus estágios primitivos. O mito configura-se como uma crença dotada de poder explicativo do real limitado. Esse tipo de conhecimento é decorrente da necessidade que o ser humano tinha e ainda tem de explicar a sua realidade e resolver seus problemas. Desde sempre houve a preocupação com o conhecimento da realidade. Exemplo: “As tribos primitivas, através dos mitos, explicaram e explicam os fenômenos que cercam a vida e a morte, o lugar dos indivíduos na organização social, seus mecanismos de poder, controle e reprodução” (MINAYO, 1998, p. 9).

c) Conhecimento Filosófico

É fruto do raciocínio e da reflexão humana. É o conhecimento especulativo sobre fenômenos, gerando conceitos subjetivos. Busca dar sentido aos fenômenos gerais do universo, ultrapassando os limites formais da ciência. Exemplo: "O homem é a ponte entre o animal e o além-homem" (Friedrich Nietzsche). No conhecimento filosófico a reflexão sobre a realidade é orientada pela razão. Ele busca uma resposta sobre a realidade a partir da razão do ser. A filosofia estuda o seu objeto, em sua generalidade mais alta.

Chauí (2000, p.19), define como “a decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana: jamais aceitá-las sem antes havê-los investigado e compreendido”. Do que se pode inferir que o conhecimento filosófico se contrapõe ao pensamento religioso ou mítico, ao se propor a desenvolver no ser humano a possibilidade de reflexão ou a capacidade de raciocínio. A filosofia não uma ciência tal como a conhecemos atualmente, mas a busca do saber.

No desdobramento do conhecimento filosófico, desde a era da antiguidade até o período moderno, quando a institucionalização do método científico ocasionou a desvinculação da ciência da filosofia, a preocupação foi de ultrapassar a opinião, os juízos de valores e os sentimentos, e assim, afastar as possibilidades de erro na produção do conhecimento em relação a realidade e ao mundo.

d) Conhecimento Teológico

Conhecimento revelado pela fé divina ou crença religiosa. Não pode, por sua origem, ser confirmado ou negado. Depende da formação moral e das crenças de cada indivíduo. Exemplo: Acreditar que alguém foi curado por um milagre; ou acreditar em Duende; acreditar em reencarnação; acreditar em espírito etc.

O conhecimento teológico, ou religioso como é mais conhecido, está sempre relacionado com a possibilidade que o ser humano tem de criar imagens abstratas da realidade a partir do sentimento, usando um mínimo de razão, ou até mesmo em oposição a ela. Constitui-se como uma das formas de representação que o ser humano tem de se relacionar com a sua realidade, nesse caso por meio das crenças.

É um tipo de conhecimento que não depende das especulações humanas, mas da experiência que o ser humano vincula com a fé. As verdades acerca da realidade são alcançadas por meio do que aceito com revelação divina, e não pela razão. Ele apóia-se em doutrinas que contém proposições sagradas (valorativas), por terem sido reveladas pelo sobrenatural, são infalíveis e indiscutíveis (exatas). Como um conhecimento sistemático do mundo (tem origem, significado, finalidade e destino), obra de um criador divino; suas evidências não são verificadas.

Conhecimentos religiosos, quando organizados e sistematizados em um corpo coerente de doutrina, transformam-se em religião, mais ou menos institucionalizada, como, por exemplo, podemos identificar no judaísmo, no cristianismo e no islamismo.

e) Conhecimento Científico

É o conhecimento racional, sistemático, exato e verificável da realidade. Sua origem está nos procedimentos de verificação baseados na metodologia científica. Exemplo: Descobrir uma vacina que evite uma doença; descobrir como se dá a respiração dos batráquios. Pode-se então dizer que o Conhecimento Científico é racional e objetivo, atém-se aos fatos, transcende aos fatos, é analítico, requer exatidão e clareza, é comunicável, é verificável, depende de investigação metódica, busca e aplica leis, é explicativo, pode fazer predições, é aberto e é útil (GALLIANO, 1979, p. 24-30).

Diante do contexto em que emerge, o período moderno, por meio da utilização da experiência sensível, da explicação divina ou do campo hipotético, esta sociedade emergente não mais conseguia explicar os fenômenos da realidade. A preocupação passou a ser a compreensão do mundo de forma sistemática, metódica e crítica, portanto, ir para além do senso comum, da religião e da própria filosofia.




1. 4 Ciência



Ciência é o conhecimento científico, um sistema de conhecimentos que são obtidos de leis gerais e são testadas através de métodos científicos. A evolução humana corresponde ao desenvolvimento de sua inteligência. Diante disso, podem-se estabelecer três níveis de desenvolvimento da inteligência dos homens desde o surgimento dos primeiros hominídeos:

1º) o medo: Os seres humanos pré-históricos não conseguiam entender os fenômenos da natureza. Por este motivo, suas reações eram sempre de medo: tinham medo das tempestades e do desconhecido. Como não conseguiam compreender o que se passava diante deles, não lhes restava outra alternativa senão o medo e o espanto daquilo que presenciavam.

2º) o misticismo: Num segundo momento, a inteligência humana evoluiu do medo para a tentativa de explicação dos fenômenos através do pensamento mágico, das crenças e das superstições. Era, sem dúvida, uma evolução já que tentavam explicar o que viam. Assim, as tempestades podiam ser fruto de uma ira divina, a boa colheita viria da benevolência dos mitos, as desgraças ou as fortunas eram explicadas através da troca do humano com o mágico.

3º) a ciência: Como as explicações mágicas não bastavam para compreender os fenômenos os homens finalmente evoluíram para a busca de respostas através de caminhos que pudessem ser comprovados. Desta forma nasceu a ciência metódica, que procura sempre uma aproximação com a lógica.

No artigo “Metodologia Científica: repensando a função da pesquisa jurídica”, Carla Oliveira e Flávia Cornelli destacam, no que se refere a finalidade social da ciência, é que esta se encontra enraizada à sociedade que se veicula e, consequentemente, tem o dever de divulgar para a população os resultados e as conclusões de suas pesquisas. Narram estas autoras que:

A ciência necessariamente trata-se de um conhecimento compartilhado. De que valem tantas informações concentradas em tão poucas mentes? Por que o resultado de um pesquisador só pode ser implementado por ele próprio? É bem viável que um cidadão comum de muitos recursos venha se interessar por uma linha de pesquisa e até favoreça o financiamento da prática de seus resultados. Para tanto, a população necessita ter acesso às informações em linguajar compreensível. Viabilizar a implementação de seus resultados é também função da pesquisa (OLIVEIRA; CORNELLI, 2005).

A palavra ciência pode ser assumida em duas acepções: em sentido amplo, ciência significa simplesmente conhecimento, como na expressão “Tomar ciência disso...” ou “Eu estou ciente de que...”. Em sentido restrito, “ciência não significa um conhecimento qualquer, e sim, um conhecimento que não só apreende ou registra fatos, mas os demonstra pelas suas causas determinantes ou constituitivas” (RUIZ, 1976, p. 123).

A palavra ciência surge do latim (scire) e significa conhecimento ou sabedoria. Em geral, fala-se que uma pessoa tem um certo conhecimento (ou está ciente) quando detém alguma informação ou saber com relação a algum aspecto da realidade.
Uma boa cozinheira, por exemplo, possui um conhecimento sobre culinária, assim como um engenheiro sobre os possíveis modos de construção de uma casa. No sentido mais geral da palavra ciência, os dois podem e devem ser considerados sábios. No entanto, não se pode dizer que o conhecimento que os dois apresentam seja do mesmo tipo. Tanto o modo como cada um deles veio a aprender o que sabe hoje como a natureza do conhecimento aprendido são diferentes.
Assim, a cozinheira, que aprendeu seu ofício com sua mãe, pode fazer bolos muito bem, mas dificilmente saberá explicar o motivo pelo qual o fermento faz o bolo crescer. Já o engenheiro, que freqüentou uma universidade, deverá saber apresentar as causas relacionadas, por exemplo, à queda de uma casa (CARVALHO, 2000, p. 11).

Em contra-posição ao modo vulgar ou empírico de conhecer, a ciência é definida como conhecimento pelas causas. Conhece cientificamente quem é capaz de demonstrar os porquês de determina enunciado. As conclusões científicas ultrapassam as limitações do conhecimento vulgar. Entre outras características principais, temos que a ciência generaliza resultados, porque atinge a constituição íntima e a causa comum a todos os fenômenos da mesma espécie. A ciência tem o propósito de tornar o universo compreensível. Ela satisfaz nosso desejo de conhecer, de desvendar o desconhecido. A ciência é uma investigação rigorosamente metódica e controlada, daí a razão da confiança das conclusões científicas. Ela se destaca pela exatidão e fixa degraus sólidos na subida para o integral conhecimento da realidade pesquisada. Neste sentido, “a ciência, analisando sua evolução histórica, demonstra ser uma busca, uma investigação contínua e incessante de soluções e explicações para problemas” (KÖCHE, 1978, p. 20).

Verbete: ciência [Do lat. scientia.] S. f. 1. Conhecimento (3). 2. Saber que se adquire pela leitura e meditação; instrução, erudição, sabedoria. 3. Conjunto organizado de conhecimentos relativos a um determinado objeto, especialmente os obtidos mediante a observação, a experiência dos fatos e um método próprio: 4. Soma de conhecimentos práticos que servem a um determinado fim: 5. A soma dos conhecimentos humanos considerados em conjunto: 6. Filos. Processo pelo qual o homem se relaciona com a natureza visando à dominação dela em seu próprio benefício. [Atualmente este processo se configura na determinação segundo um método e na expressão em linguagem matemática de leis em que se podem ordenar os fenômenos naturais, do que resulta a possibilidade de, com rigor, classificá-los e controlá-los.] (In: Dicionário Aurélio).




Leituras sugeridas na disciplina - Referências



Prioridades:

ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Atlas, 1993.
BARROS, Aidil Jesus Paes de; LEHFELD, Neide Aparecida. Fundamentos de Metodologia: um guia para iniciação científica. São Paulo: McGraw-Hill, 1986.
BEBER, Guerino. MARTINELLO, Darci. Metodologia científica. 3. ed. Caçador (SC): Universidade do Contestado, 2002.
GALLIANO, A. Guilherme. O Método Científico. Teoria e Prática, São Paulo: Atlas, 1985.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
KÖCHE, José Carlos. Fundamentos de Metodologia Científica. Caxias do Sul: UCS, 1978
______. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e prática da pesquisa. 20. ed. amp. Petrópolis: Vozes, 2002.
LAKATOS, Eva Maria: MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2000.
______. Metodologia do trabalho científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e trabalhos científicos. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2001.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa: Planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas, elaboração, análise e interpretação de dados. 4. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 1999.
MÁTTAR NETO, João Augusto. Metodologia científica na era da Informática. São Paulo: Saraiva, 2002.
RUIZ, João Alvaro. Metodologia científica. Guia de eficiência nos estudos. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2002.
SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 21 ed. rev. e ampl. São Paulo: Cortez, 2000.

Complementares:

BACHELARD, Gaston. O novo espírito científico. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1968.
BASTOS, Lília da Rocha, PAIXÃO, Lyra, FERNANDES, Lucia Monteiro. Manual para a elaboração de projetos e relatórios de pesquisa, teses e dissertações. 3. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.
BELO, José Luiz de Paiva. Metodologia Científica. Disponível em . Acesso em novembro de 2003.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. (org.) Pesquisa participante. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1988. 211 p.
CARVALHO, Alex et al. Aprendendo Metodologia Científica. São Paulo: O Nome da Rosa, 2000.
CASTRO, Cláudio Moura. A prática da pesquisa. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1977.
____. Estrutura e apresentação de publicações. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1977.
CERVO, Amado Luiz, BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia científica: para uso dos estudantes universitários. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1977.
DEMO, Pedro. Metodologia científica em ciência sociais. 2. ed. São Paulo: Atlas. 1989. 287 p.
DIXON, B. Para que serve a ciência?. São Paulo: Nacional, 1976.
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