domingo, 15 de fevereiro de 2009

2. A arte de saber ler e de apontar

2. A arte de saber ler e de apontar

Nesta segunda aula, adentramos mais na disciplina de Metodologia Científica, agora enfocando questões sobre leitura, ou seja, sobre a arte de ler – e de ler bem – e de fazer apontamentos, fundamental no método científico, principalmente na parte de revisão da literatura dos projetos. Aqui, adicionamos uma apreciação sobre hipertexto, como recurso de linguagem que está em pleno desenvolvimento.



2. 1 Processos de leitura


O ato de ler, mesmo com toda a tecnologia colocada ao alcance do ser humano hoje, é uma prática indispensável em qualquer meio intelectual e se constitui de um dos fatores essenciais para aquisição de conhecimentos.

A leitura constitui-se em fator decisivo de estudo, pois propicia a ampliação de conhecimentos, a obtenção de informações básicas ou específicas, a abertura de novos horizontes para a mente, a sistematização do pensamento, o enriquecimento de vocabulário e o melhor entendimento do conteúdo das obras. (LAKATOS; MARCONI, 1991, p. 19).

Há leitores que correm os olhos pelas palavras enquanto sua mente permanece distante, e só percebem que "não leram" quando chegam ao fim de uma página, capítulo ou livro e recomeçam tudo de novo, porque de fato não aprenderam a ler. A leitura proveitosa é só obtida quando o leitor consegue estabelecer "um diálogo" com o autor do texto, ou seja, quando consegue entender, interpretar e decifrar a mensagem, distinguir os elementos mais importantes dos secundários, utilizar esses conhecimentos como fonte de novas idéias, emitir julgamento crítico e ser capaz de reelaborar o texto.

A leitura é uma das fontes mais ricas de aquisição de novos conhecimentos. “A tal ponto que se pode afirmar que o homem que pouco ou nada lê, poucas idéias tem para discorrer sobre qualquer assunto” (BEBBER; MARTINELLO, 2002, p. 49). E segundo Lakatos e Marconi (1991, p. 20), uma leitura proveitosa e com resultados satisfatórios, pressupõe alguns aspectos fundamentais: atenção (aplicação profunda da mente para apreensão dos conteúdos básicos), intenção (interesse, objetivo, propósito da leitura), reflexão (ponderação sobre o que lê, favorece a assimilação das idéias do autor), espírito crítico (avaliação crítica do texto), análise (divisão do tema em partes, verificando as relações existentes entre as partes e o entendimento de toda sua organização) e síntese (reconstituição das partes, resumo dos aspectos essenciais, sem perder a seqüência lógica do pensamento).

A leitura passa por quatro momentos distintos:

1º - Leitura Informativa > é o momento em que se tem uma visão geral do conteúdo, verificando se, nesse conteúdo, há elementos úteis para o seu objetivo.
2º - Leitura Seletiva > é o momento de selecionar as informações consideradas importantes e pertinentes ao seu objetivo. Momento de captar as idéias do autor.
3º - Leitura Crítica > é o momento da verificação das verdades, da compreensão dos enunciados, com a análise, a comparação, a diferenciação e o julgamento das idéias do texto.
4º - Leitura Interpretativa > é o momento de se tomar uma posição própria a respeito das idéias enunciadas, é superar a mensagem do texto, é ler nas entrelinhas.

Lembra-se que a escrita de um trabalho acadêmico, objetivo e consistente, está associada à leitura de obras sobre o tema do estudo. No entanto, estes dois processos devem ser aprimorados, sempre que possível, visando aumentar a qualidade do resultado final, que é o conhecimento científico adquirido e disseminado. Para isso, devem ser conhecidas e entendidas as regras gramaticais da língua portuguesa e utilizadas técnicas de leitura e escrita, normalmente repassadas em disciplinas de Português.

Aqui, algumas dicas sobre as técnicas de leitura e escrita, na forma de tópicos.

Em primeiro lugar, devem ser observadas as condições necessárias para uma boa leitura:

a) Ambiente e iluminação adequados que permitam a concentração no texto;
b) Local e horário convenientes ao leitor;
c) Posição do texto em relação aos olhos, evitando o cansaço;
d) Postura corporal confortável e adequada à atividade de leitura;
e) Propósito definido a ser alcançado com a leitura do texto escolhido.

Em segundo lugar, os processos para uma boa leitura devem ser seguidos:

a) Identificação das palavras com o uso de um dicionário, quando necessário;
b) Interpretação do pensamento do autor, analisando sua forma de raciocínio;
c) Compreensão do texto, entendendo os conceitos apresentados e sua estrutura;
d) Fixação da idéias do texto para que possam ser utilizadas posteriormente;
e) Reprodução das idéias, visando garantir o entendimento do conteúdo.

Caso surjam dificuldades, algumas dicas podem auxiliar na melhora da leitura:

a) Atender as condições necessárias ao rendimento ideal para si próprio;
b) Técnicas de leitura dinâmica agilizam o processo e aumentam o rendimento;
c) Exame preliminar da leitura diminui a probabilidade de leituras desinteressantes e inúteis para o estudo em questão;
d) Identificar unidades de leitura e idéia principal, ou seja, introdução, desenvolvimento e conclusão;
e) Fazer anotações (marcar ou sublinhar), usando preferencialmente um lápis ou quando o livro for emprestado, usar um bloco de anotações organizado;
f) Resumir as idéias principais para facilitar a utilização posterior.

Ao seguir estas observações, a leitura terá rendimento superior e maior assimilação. Além disso, tornar-se-á uma atividade prazerosa que pode influenciar decisivamente na sua carreira profissional. O mundo atual exige e remunera conhecimento e informação, e é praticamente impossível adquiri-los sem uma boa leitura.




2. 2 Técnicas para a leitura – os apontamentos


Um bom aproveitamento nos estudos, além da eficiência na leitura, supõe o uso de alguns apontamentos, (como sublinha, esquema, resumo e ficha) ou a aplicação sistemática e habitual de outras técnicas que facilitam a compreensão, a retenção, a memorização e, ainda, a documentação posterior. (BASTOS; KELLER, 1993, p. 44). Tomar apontamentos é transladar, formal ou conceptualmente, os dados, fatos ou proporções notáveis de uma fonte oral ou escrita, para um caderno, pasta ou fichário de uso pessoal.


2. 2. 1 A Arte de Sublinhar (ou marcar)


A Sublinha é a arte de colocar em destaque as idéias principais e palavras-chave de um texto. Um texto corretamente sublinhado permite a releitura com rapidez e é base para a elaboração de esquemas e resumos. Só se sublinha as idéias que são compreendidas, aquilo que se considera indispensável para o entendimento global do texto.

Indicam-se os seguintes procedimentos para a elaboração da “sublinha”: Durante a fase inicial da leitura, você deve grifar (sublinhar) as “palavras-chave” dos parágrafos. Esteja atento, em cada parágrafo do texto é um momento de desenvolvimento do raciocínio, do desdobramento da argumentação, na apresentação das idéias ou conceitos que, no conjunto, demonstram a posição assumida pelo autor. Por isso, para que você tenha uma boa compreensão do texto que estiver lendo, é necessário ter clareza das idéias apresentadas nos parágrafos.

A técnica de “sublinhar” ou “marcar” palavras ou frases não tem regras fixas. É importante que se crie um código pessoal. As dicas a seguir servem como elementos auxiliares para a utilização desta técnica:

a) Proceda primeiramente a leitura integral do texto;
b) Busque esclarecimentos sobre o vocabulário usado pelo autor;
c) Faça nova leitura, sublinhando em cada parágrafo as idéias principais (com dois traços), dando destaque às palavras-chave.
d) À margem do texto assinale, com uma linha vertical, os tópicos considerados importantes, destacando os importantíssimos.
e) À margem do texto, assinale com um ponto de interrogação, as discordâncias, os pontos considerados obscuros e discutíveis.


2. 2. 2 Elaboração de Esquema


Esquema é um recurso de apontamentos de idéias encontradas num texto, que só servem para o leitor-pesquisador. Consiste em uma radiografia do texto, apresentando apenas o esqueleto, as palavras-chave, sem a presença da elaboração de frases explicativas. O objetivo do esquema é auxiliar o leitor no entendimento do conjunto de idéias apresentadas pelo texto.

Como a sublinha, o esquema não possui normas fixas para sua elaboração. É algo pessoal, e o que dele se espera, é que contenha as palavras-chave ou idéias principais, de forma clara e compreensível. O esquema é algo parecido com o sumário, pois as anotações retratam o desenvolvimento de uma idéia central, desdobrada em partes. Trata-se de fazer, montar ou desenhar um esquema, de esquematizar.

O esquema científico pode ser dividido em ordem e por números, como “pode ser elaborado com a utilização de chaves, no qual, no extremo à esquerda está a idéia central, que vai se ramificando e se multiplicando, quantas forem as idéias secundárias” (BEBBER; MARTINELLO, 2002, p. 56). Como trabalho acadêmico, o aluno pode fazer uso do esquema para fazer um resumo (veja adiante) para fazer apresentações em seminários ou outra atividade que necessite situar os participantes em relação ao conteúdo a ser tratado, como uma aula, por exemplo. O esquema também é útil na elaboração de seus textos, pois com ele você garante a ordenação de suas idéias numa seqüência coerente, ou seja, com início, meio e fim facilitando a compreensão do leitor acerca do que se quer comunicar.



2. 2. 3 Ficha de Leitura - O Fichamento


Quando se elabora uma pesquisa bibliográfica, as leituras que forem realizadas devem ser registradas, mediante anotações. Estas anotações adquirem maior funcionalidade se forem feitas em fichas. O Fichamento é uma parte importante na organização para a efetivação da pesquisa de documentos. Ele permite um fácil acesso aos dados fundamentais para a conclusão do trabalho.

Os registros e a organização das fichas dependerão da capacidade de organização de cada um. Os registros não são feitas necessariamente nas tradicionais folhas pequenas de cartolina pautada. Pode ser feita em folhas de papel comum ou, mais modernamente, em qualquer programa de banco de dados de um computador. O importante é que elas estejam bem organizadas e de acesso fácil para que os dados não se percam.


Sobre Tipos de Fichas:

Ficha Bibliográfica > pode ser de obra inteira ou parte de uma obra. Este tipo de ficha contempla os seguintes aspectos:
• é a exposição abreviada das idéias do autor;
• deve ser elaborada com as próprias palavras de fichador;
• deve conter a essência do texto, elencando as conclusões alcançadas.

Ficha de Citações > a ficha de citações é a reprodução fiel de frases consideradas relevantes ao estudo que estiver sendo desenvolvido. Alguns aspectos devem ser priorizados:
• a citação deve aparecer entre aspas;
• deve ser colocado o número da página de onde foi extraída para facilitar a localização;
• caso haja supressão de palavra(s), deve ser feita a indicação, mediante a aposição de três pontos (...) tanto no início, meio ou final do texto.

Ficha de Comentários Pessoais > é um tipo de ficha que enseja a interpretação crítica das idéias apontadas pelo autor. Apresenta os seguintes quesitos:
• comentários sobre os aspectos metodológicos do texto;
• análise crítica do conteúdo;
• comparação com outros temas de conteúdos afins;
• relevância da obra para estudo que está sendo efetivado.

Composição das Fichas:

Cabeçalho : é composto do título genérico (assunto geral), título específico (assunto mais detalhado) e número de ordem da ficha.
Indicação Bibliográfica : é a indicação da referência empregada no fichamento, segundo a ABNT.
Corpo ou Texto : conteúdo da ficha, conforme o tipo do texto.


2. 2. 4 Sumário


Um Sumário (ou sinopse) é um resumo de um texto, mas sem obedecer à sua estrutura original. É a ordenação sucinta das idéias principais esparsas no texto, anotadas pelo leitor enquanto lê e anota a essência principal de cada parte do texto. Funciona como guia de leitura, facilitando a seleção do que pode ou não ser incorporado no seu trabalho.



2. 2. 5 Resumo do texto


O resumo vem ser a condensação do texto em seus elementos principais. Eles respeitam a estrutura do pensamento do autor consultado. Deve conter as idéias principais da fonte, não tendo, todavia, a obrigação de ser explicitação clara, a não ser para o próprio autor do resumo. O resumo é um instrumento que possibilita ao seu autor (que é o leitor) maiores ampliações posteriores. É como um ponto-de-partida sobre idéias lidas, assimiladas e resumidas.

Formas de resumo:

a) Resumo descritivo: é a descrição dos principais tópicos do texto em estudo. Necessita da leitura e compreensão do texto original, na sua totalidade.
b) Resumo informativo: é a apresentação das idéias principais, com a redução drástica das idéias secundárias e dos pormenores, eliminando-se os gráficos, citações e as exemplificações. Este resumo é habitualmente usado nos cursos de graduação.
c) Resumo crítico: é a condensação do texto original mantendo as idéias fundamentas, acompanhadas de opiniões e comentários do autor do resumo. Também é conhecido como Resenha, esta que é um resumo que apresenta as idéias originais, permitindo opiniões, comentários e comparações com outros textos da área do conhecimento.

Algumas orientações práticas para a elaboração de resumos:

a) não resumir antes de ler, sublinhar e esquematizar;
b) servir-se das palavras sublinhadas, dando-lhe uma linguagem fluente;
c) respeitar a ordem das idéias e dos fatos apresentados;
d) o assunto deve ser apresentado de forma sucinta, com linguagem clara e objetiva;
e) evitar cópias do original;
f) concluir com apreciações críticas pessoais (conforme o tipo e objetivo do resumo) e referência bibliográfica.

No caso de um texto, o resumo consiste em colocar em evidência as idéias principais de um texto, de maneira que a unidade do pensamento do autor apareça, identificando as ligações principais que ele estabelece entre as idéias. A sua qualidade está diretamente relacionada à qualidade da leitura que a precede. Daí ser um auxiliar importante na seleção de leituras. A NBR 6028 (ABNT, 2003e), define resumo como “a apresentação concisa e seletiva de um texto, ressaltando de forma clara e sintética a natureza do trabalho, seus resultados e conclusões mais importantes, seu valor e originalidade”. No resumo de teses, dissertações, monografias (inclusive o TCC) e artigos, ele precede (vem antes) o texto. Quando não integra o texto original, ou seja, quando ele é um produto individual, a primeira coisa que você tem que fazer é a identificação bibliográfica completa do texto resumido. Ao fazer o seu resumo, procure ser objetivo, colocando apenas as informações mais significativas, respeitando a estrutura e as idéias do texto original (SILVA. Internet).

O resumo pode conter os seguintes elementos:

a) Esquemas e sublinhados que façam referência ao texto e tenham relação com o tema estudado;
b) Anotações prévias, garantindo que o propósito da leitura seja mantido;
c) Frases curtas, diretas e objetivas, contendo apenas as principais idéias;
d) Referências bibliográficas que permitam encontrar o livro posteriormente;
e) Interpretação pessoal com base nas necessidades do estudo, mas baseada em conhecimento científico e não em juízo de valor.



2. 2. 5. 1 A Resenha (Resumo Crítico)



Instruções sobre como produzir uma resenha, segundo outras indicações bibliográficas:



O Caminho da boa resenha
Prof. Geraldo Galvão Ferraz

Escrever uma resenha é um excelente exercício de redação. A resenha é a espécie de texto mais usada em atividades acadêmicas e está sempre presente no chamado jornalismo cultural. O que popularmente recebe o nome de "crítica" de livros, filmes, CDs, DVDs, peças teatrais, balés, exposições, shows, nada mais é do que resenhas. Ou seja, sínteses e comentários sobre uma obra artística. Claro, elas podem abranger apreciações sobre livros técnicos, científicos ou filosóficos.
O objetivo da resenha, geralmente, é hoje divulgar o fato cultural e servir ao seu leitor como uma bússola em meio à produção cada vez maior da indústria cultural. Quem entra numa megalivraria abarrotada de milhares de ofertas, tende a sentir-se mais confortável se já leu uma resenha a respeito de tal ou tal livro. Resenhas ajudam na seleção bibliográfica para trabalhos acadêmicos ou científicos, evitando perda de tempo com leitura de livros e mais livros e funcionam para a atualização de estudiosos.
A resenha oscila da síntese para a análise e vice-versa. Será bem-sucedida a resenha que equilibrar essas duas vertentes. Pois, sendo um gênero necessariamente breve, é perigoso o caminho do resenhador parar no buraco negro da superficialidade. Mas, a brevidade do texto, assim como no conto, é o segredo de um estilo que pode ser sedutor, elegante e incisivo.
Há vários nomes para a resenha: resumo, recensão e outros que sempre remetem à idéia de exame abreviado, verificação minimizada de um texto. E resenhar tem tudo a ver com um texto argumentativo, que visa a expressar a opinião do seu autor, supostamente alguém com um referencial de conhecimento capaz de avaliar o que está sob sua visão e possuidor de argumentos que convençam que essa avaliação é correta ou, pelo menos, flua na direção exata. A resenha parece, para o leigo, algo fácil de fazer e, por isso, nos jornais e revistas - onde a pressa é amiga do patrão - há tantas resenhas arrogantes, ruins e levianas.
Como evitar uma, digamos, pisada na bola ao fazer uma resenha? Há várias recomendações dos especialistas, mas talvez a mais importante seja a da humildade. Quem escreve uma resenha é um tipo de filtro entre o fato cultural e o leitor. Estes dois últimos é que importam. Sobretudo para o resenhista-jornalista, é preciso não colocar os seus interesses ou uma visão totalmente subjetiva à frente de tudo. Como dizia o tio do Homem-Aranha, grandes poderes trazem grandes responsabilidades. E, conforme o lugar, resenhistas podem fazer um livro mofar nas prateleiras ou uma peça ser encenada para poltronas vazias.

Usar uma lista de verificação
Para ajudar na síntese do conteú¬do da obra, uma lista de checagem da avaliação pode incluir o "assunto", ou seja, do que a obra trata e seu desenvolvimento, os objetivos do autor com seu texto, como evolui o raciocínio do autor, o que
geralmente é explicitado capítulo a capítulo.
Se você ainda quiser fazer uma verificação final, após ter escrito a resenha, uma lista de check-in como a dos pilotos que vão fazer um avião decolar, há algumas perguntas que você deve responder:
- Seu texto está adequado ao público para que você está escrevendo?
- Sua resenha mostra que você é uma pessoa que refletiu sobre o texto e tem um repertório suficiente para avaliá-lo?
- Está na resenha o que o autor destacou como importante na sua obra?
- Aqueles elementos essenciais da estrutura da resenha estão todos ali?
- Suas opiniões estão equilibradas e fundamentadas? Você não cometeu excessos de avaliação?
- Releia para conferir se adjetivos, verbos estão corretos e se não há problemas de correção gramatical no texto

Respeitar o leitor
O resenhista tem de saber exatamente a que público se destina seu trabalho. Uma resenha acadêmica exige um determinado tipo de texto mais culto e permite citações mais complexas. A jornalística requer um texto mais acessível e o cuidado de situar fatos e pessoas com as devidas explicações para um público não tão enfronhado no assunto.
Como a resenha é um texto breve, uma boa dica é capturar o leitor desde o primeiro parágrafo (ou da primeira frase). O melhor é descobrir algo provocativo, intrigante, que agarre o leitor de cara. As resenhas acadêmicas, contudo, seguem um modelo quase padronizado, de ter um cabeçalho informativo sobre os dados bibliográficos da obra resenhada, depois passam para os dados do autor, seu currículo acadêmico, por exemplo.
Para a resenha não-acadêmica, não há tais limites. Identificar algo insólito sobre o texto ou o autor pode ser um modo interessante de começar. Ou falar de um aspecto muito recorrente, como o texto em forma de diário, o filme que conta a história em flashback, o CD que revive standards de uma década afastada...

Equilibrar a síntese
Por ser texto breve, é recomendável usar frases curtas e diretas.Fazer o contrário é dar pijama e travesseiro para o leitor. Não se perca em detalhes demais, porque o espaço é curto. Pense na condição básica: resenha é síntese.
Na estrutura essencial da resenha há certos elementos que não devem faltar. Aonde você irá colocá-los, é questão de gosto e estilo. Sem desprezar o bom senso. Uma menção ao nome da obra e do autor, a descrição do conteúdo da obra, a avaliação, a comparação com outras obras do mesmo autor, tema ou contexto histórico-artístico e uma conclusão que sintetize a opinião de quem escreve. Comparar um livro ou um filme com outros semelhantes - ou diferentes - pode ser esclarecedor na busca de aspectos originais ou vigorosos daquilo que se resenha.
O estilo do autor é outra pista a ser seguida. Da mesma forma que a maneira de construção dos personagens, a avaliação de que eles serão lembrados ou esquecidos em pouco tempo.



A Resenha
Profa. Maria das Graças da Silva

Ainda que a elaboração da resenha (também chamada de resumo crítico ou recensão) não esteja normalizada pela ABNT, ela, além de apoiar você no seu processo de leitura de maneira proveitosa, tem sido usada como uma forma de elaboração e comunicação do trabalho
acadêmico-científico.
De um modo geral, podemos considerar a resenha como uma apreciação criteriosa sobre determinada obra. Por meio de um “diálogo” com os autores das obras, você começará a exercitar uma postura crítica diante do conteúdo do texto, ou seja, na elaboração de uma resenha o aluno é “chamado” a comentar as idéias do autor.
Tal como as formas anteriores de trabalho acadêmico, na elaboração de uma resenha, você tem que observar a delimitação do espaço (que dependendo da finalidade, pode variar entre duas a dez laudas), os objetivos que se propôs e a finalidade (publicação, atividade acadêmica etc.).
O objetivo principal da resenha é fazer uma apreciação crítica, comentada sobre uma determinada obra para publicação ou divulgação. De acordo com Severino (1986, p.181, além do caráter puramente informativo, ela é útil por contribuir com comentários críticos. Como você deve ter percebido, podemos considerar que existem dois tipos de resenha. A informativa, que limita-se a expor o conteúdo do texto resenhado com a maior objetividade possível. E a crítica, cujo conteúdo da obra é acompanhado por uma apreciação crítica.
De acordo com Azevedo (1992, p.32-3), uma resenha inclui três seções principais:
Primeiro, a introdução, que precisa ser breve. Nela, você, além de contextualizar o assunto de que trata o livro, precisa discutir a relevância do assunto, localizando-o no tempo e no espaço. Dessa forma, você estará incentivando o leitor a ler o trabalho.
Na segunda seção, você vai fazer o resumo da obra. Conforme vimos nos três últimos parágrafos acima, você pode fazer o resumo sem a crítica, apenas apresentando as idéias principais do autor de forma concatenadas e ordenadas. Ou, incluindo a crítica, neste caso você vai exercendo a sua opinião, mostrando os pontos falhos, revelando as ideologias, destacando os pontos válidos etc. Nesta seção você pode incorporar as citações formais, com aspas seguidas de indicação das páginas de onde foram extraídas.
A terceira seção é reservada para você dar a sua opinião, uma espécie de conclusão. Enfim, a obra tem alguma validade? Que tipo de validade? O que falta ao livro? Há alguma originalidade? A leitura é agradável? No caso de algum senão, será útil indicar a página para que o leitor possa conferir.





2. 3 O aluno na Cibercultura - Hipertexto



O hipertexto constitui-se, atualmente, numa das ferramentas mais notáveis na esfera da Educação, também quando usada para induzir o aluno à interatividade. Como instrumento de ensino e aprendizagem, o hipertexto facilita um ambiente no qual a aprendizagem acontece de forma incidental e por descoberta, uma vez que, ao tentar localizar uma informação, os alunos usuários de hipertexto participam ativamente de um processo de busca e construção do conhecimento. As respostas obtidas são nitidamente multi-dimensionais.

Segundo Cristina Portugal, por detrás da idéia de hipertexto anterior à informática, a Bíblia pode ser considerada um tipo de hipertexto pela forma não linear de leitura que propicia. Exemplos de hipertextos podem ser encontrados, também, nas anotações de Leonardo da Vinci e na própria história da literatura. Em “Hipertexto como instrumento para apresentação de informações em ambiente de aprendizado mediado pela internet”, escreve ela que

A literatura impressa nos oferece diversos exemplos de hipertextos que permitem ao leitor uma leitura não linear. Todo texto escrito é um hipertexto onde o leitor se insere num processo também hipermidiático, pois a leitura é feita de ligações dos pensamentos que estão na memória do leitor, das referências do texto, nos índices e no índex e até mesmo em cada palavra que remeta o leitor para fora da linearidade do texto. Disponível em: . Acesso em junho de 2007.

Lemos na Wikipédia que o Hipertexto é um texto suporte que acopla outros textos em sua superfície cujo acesso se dá através dos links que têm a função de conectar a construção de sentido, estendendo ou complementando o texto principal. Um conceito de Hipertexto precisa abranger o campo lingüístico, já que se trata de textos. Em computação, hipertexto é um sistema para a visualização de informação cujos documentos contêm referências internas para outros documentos (chamadas de hiperlinks e para a fácil publicação, atualização e pesquisa de informação. O sistema de hipertexto mais conhecido atualmente é a www, no entanto a internet não é o único suporte onde este modelo de organização da informação e produção textual se manifesta.

Uma das maiores controversas a respeito deste conceito é sobre sua vinculação obrigatória ou não com a internet e outros meios digitais. Alguns autores defendem que o hipertexto acontece apenas nos ambientes digitais, pois estes permitem acesso imediato a qualquer informação. A internet, através da web, seria o meio hipertextual por excelência, uma vez que toda sua lógica de funcionamento está baseada nos links.

O hipertexto é muito apropriado para a representação de informações no computador por dois motivos: permite subdividir um texto em trechos coerentes e relativamente curtos, facilitando a sua organização e compreensão; permite também fácil referência a outras partes do texto ou a outros textos, totalmente independentes, muitas vezes armazenados em locais distantes. Isto cria uma característica própria de leitura da informação que, após um curto processo de adaptação, passa a ser intuitivo para o usuário, que se refere a esta leitura como “navegação”. Disponível em . Acesso em junho de 2007.

Ninguém discute que o hipertexto é uma forma de organização da informação, tanto veiculada em um suporte estático como através de meios eletrônicos. Em “Cultura Escrita, Literatura e História” (Porto Alegre: Armed, 2001), Chartier trata do hipertexto na educação, tendo que os modos de reprodução, inscrição e recepção da informação mudaram radicalmente com o texto eletrônico. Para ele, três aspectos básicos diferenciam os suportes estáticos dos suportes eletrônicos.

O primeiro aspecto é a possibilidade de escrever no corpo do texto, enquanto que no livro escreve-se apenas nas margens, nos espaços em branco, permanecendo intocável o texto básico inicial. Na leitura em tela esta presença extensiva e preliminar desaparece. Para Chartier, "(...) com a representação eletrônica do texto, existe a possibilidade de submeter o texto recebido às decisões próprias do leitor para cortar, deslocar, mudar a ordem, introduzir sua própria escrita etc. Pode-se escrever no texto ou reescrevê-lo". (p. 145). Relevando o texto digital, o segundo aspecto considerado por Chartier é a eliminação do intermediário para a produção de livros. Com o texto escrito, mediações precisam ser feitas, como por exemplo, o modo como o livro é exposto na livraria, que contribui para dar um sentido a ele. Com o texto digital tudo isto pode ser evitado e a escrita e sua publicação podem ser feitas simultaneamente. O texto é difundido a partir da escrita do autor, sem mediações, sem intermediários. Já o terceiro aspecto é a possibilidade de todos os textos serem transformados em digitais, para que se tenha uma biblioteca universal. "Já não há um lugar do texto, cada leitor tem seu próprio lugar, pode ter acesso a esse patrimônio textual universal". (p. 146).

Na cibercultura, então, o aluno tem no hipertexto a ferramenta de ensino e aprendizagem que facilita um ambiente no qual a aprendizagem acontece de forma incidental e por descoberta, pois ao tentar localizar uma informação, os usuários de hipertexto, participam ativamente de um processo de busca e construção do conhecimento, forma de aprendizagem considerada como mais duradoura e transferível do que aquela direta e explicita. Na sala de aula onde se trabalha com hipertexto, os alunos, num sistema de colaboração, acabam aprendendo mais e através de diversas fontes. O próprio conceito de hipertexto, pode nos levar a essa intenção. Uma atividade colaborativa traz benefícios extraordinários no que diz respeito a construção individual e coletiva do conhecimento. Os professores também podem trabalhar com hipertexto para funções pedagógicas. Utilizar textos de várias turmas e redistribuí-los é um bom exemplo. O hipertexto também traz como vantagem para a educação a construção do conhecimento compartilhado, um importante recurso para organizar material de diferentes disciplinas.
(Disponível em: . Acesso em junho de 2007).

Ainda, a considerar em nossos estudos desta disciplina o texto “O hipertexto no contexto educacional”, em http://www.unicamp.br/~hans/mh/educ.html (Acesso em junho de 2007), onde são enumeradas algumas das vantagens do uso do hipertexto, quando cuidadosamente planejado:

• sistemas de hipertexto enquanto ferramentas de ensino e aprendizagem parecem facilitar um ambiente no qual a aprendizagem acontece de forma incidental e por descoberta, pois ao tentar localizar uma informação, os usuários de hipertexto, participam ativamente de um processo de busca e construção do conhecimento, forma de aprendizagem considerada como mais duradoura e transferível do que aquela direta e explicita;
• uma sala de aula onde se trabalha com hipertextos se transforma num espaço transacional apropriado ao ensino e aprendizagem colaborativos, mas também adequado ao atendimento de diferenças individuais, quanto ao grau de dificuldades, ritmo de trabalho e interesse;
• para os professores hipertextos se constituem como recursos importantes para organizar material de diferentes disciplinas ministradas simultaneamente ou em ocasião anterior e mesmo para recompor colaborações preciosas entre diferentes turmas de alunos.




Referências


BASTOS, Cleverson, KELLER, Vicente. Introdução à Metodologia Científica. Petrópolis: Vozes, 1993.
BEBBER, Guerino & MARTINELLO, Darci. Metodologia Científica. 3 ed. Caçador: Unc, 2002.
CERVO, A. L., BERVIAN, P. A. Metodologia Científica. 3. ed. São Paulo: Mc Graw-Hill do Brasil, 1983.
CHARTIER. Cultura Escrita, Literatura e História. Porto Alegre: Armed, 2001.
FERRAZ, GEALDO Galvão. Ponto-e-vírgula: O Caminho da boa resenha. REVISTA EDUCAÇÃO. Ed. 122. Disponível em: . Acesso em 2007.
GAIDZINSKI, Areti, CARMINATI, Fábia. Metodologia Científica. Criciúma: UNESC, 1990
Hipertexto. Disponível em . Acesso em junho de 2007.
LAKATOS, Eva Maria, MARCONI, Maria de Andrade. Metodologia do Trabalho Científico. 2 ed. São Paulo: Atlas, 1987.
MÁTTAR NETO, João Augusto. Metodologia científica na era da informática. São Paulo: Saraiva, 2002.
PORTUGAL, Cristina. Hipertexto como instrumento para apresentação de informações em ambiente de aprendizado mediado pela internet. Disponível em: . Acesso em junho de 2007.
SILVA, Maria das Graças. Metodologia Científica. A Resenha. Disponível em:
< http://www2.uepa.br/necad_ftp/matedidatico/Matodologia%20cientifica%20fj.pdf>. Acesso em novembro de 2006.
WIKIPEDIA. Hipertexto. Disponível em: . Acesso em junho de 2007.
O hipertexto no contexto educacional, Disponível em . Acesso em junho de 2007.

2 comentários:

REGINA DE FATIMA disse...

Gostei muito do Sr. ter falado sobre o hipertexto neste capítulo de leitura. Geralmente os autores não tratam deste tema em metodologia científica.
Parabéns. Sem falar que suas aulas são ótimas.

Regina Schmidlin
Pedagoga, Mestre em Educação e Professora de Metodologia Científica.

Unknown disse...

Aceitavél